“A pandemia veio e deixou-me ficar sozinha. Foi bom. Mesmo com os meus pais.”

A pandemia veio numa altura em que estava a sair demasiado de casa para lidar com a quantidade de misérias que me tinham acontecido entre dezembro e fevereiro.

Estive e saí de uma relação em que não era eu própria — em que não gostava dessa pessoa, mas queria provar a mim e a todos que conseguia ser uma “boa menina”.

Misturando isto com quebras de amizades de longa data em conjunto com pouca apreciação e desrespeito por outros amigos meus, deixa qualquer um tenso.
A pandemia veio e deixou-me ficar sozinha. Foi bom. Mesmo com os meus pais.
Óbvio que sentia falta de estar verdadeiramente sozinha — daí ter adotado um horário das 15 ás 7 da manhã — muitas horas em absoluto silêncio, e outras tantas a dormir enquanto o mundo corre.
Lembro-me de muito pouco das aulas online. Lembro-me de ter feito um excelente trabalho sobre o JFK e pouco mais.

Passei muito tempo em chamadas e a jogar com amigos meus. Nada de novo — simplesmente troquei o tempo que passava num café por um… convívio online. Não que já não o fizéssemos.

Tive tempo para pensar. Passei muito tempo triste — às vezes porque sabia que o mundo estava a sofrer; outras porque estava a tentar me perceber.
Jurei ser honesta com todos e, acima de tudo, comigo própria. Especialmente em relações. E jurei ser sempre eu própria — mesmo que muitas vezes me ache terrível. Todos nós fazemos o mesmo.

Passei por pensamentos de fuga e por vezes de suicídio. Muito mais de fuga. Mas esses sempre os tive. Nunca sei bem porquê. Mas sempre lidei com eles e continuei.
Ainda agora em que está “tudo bem” os tenho — com isto quero indicar que me sentia mais “presa” que o costume — mas mais por ser o “centro das atenções” de toda a casa.

Por volta de Maio, comecei a sentir-me sufocada. A minha mãe e a minha avó estavam sempre perto de mim, sem me dar privacidade alguma. Eu, como uma pessoa bastante individualista, não reagi bem. Melhorou nesse mesmo mês com o regresso às aulas.
Ter uma rotina e sair um pouco ajudou. Desde meio de maio que tem “tudo” corrido bem. Nem tudo, claro. Aconteceram coisas muito más mas, como estava num bom local na minha vida, não me senti “atingida”.

Não sei que muito mais dizer — parei de utilizar quase totalmente redes sociais, só tendo recomeçado nestes últimos 2-3 meses para acompanhar notícias e enviar a ocasional foto de gatos ao meu namorado (sim, outro, eu gosto deste). Suponho que tenha sido por não existir nada que me interessasse.

A pandemia deu-me muito tempo de autorreflexão. E precisei muito dele. Pude me reencontrar de várias formas e avançar com a minha vida. No final, não foram tempos maus. Foram somente tempos de mudança. E é isso. Espero ter ajudado.

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