“Fazia um treino de meia hora todos os dias (…) para me sentir motivada para algo.”

Pessoalmente, estes têm sido tempos complicados.
A começar com toda a incerteza do início da pandemia, quando começamos a perceber o que se passava nos outros países e como era um panorama
assustador.
Toda essa incerteza e medo constante tornam-se muito difíceis de lidar.
Ouvimos histórias por todo o lado, muita informação ao mesmo tempo, que muitas vezes nem conseguimos filtrar.
Cada dia que passava, com o surgimento dos casos em Portugal, tornava-se mais real e assustador.
Quando estivemos todos em isolamento, essa confusão de sentimentos, pelo menos para mim, abrandou.
Penso que isto tenha acontecido porque sentia que estávamos no caminho certo, que estávamos a fazer o que podíamos, que era ficar em casa.
Durante esses largos meses adotei vários comportamentos que penso que me ajudaram a preservar a minha saúde mental.

Fazia um treino de meia hora todos os dias, não só para me sentir ativa e não estar sentada o dia todo, mas também para me sentir motivada para algo durante o dia.
Ter aulas e ir a todas as aulas no horário em que as teria presencialmente também me ajudou muito: sentia que continuava com uma rotina, que tinha algo em que pensar e que fazer, ocupando o meu dia da melhor forma, aproveitando o tempo e tentar não cair na tentação de dormir a manhã toda e ver filmes a tarde toda.

Outro fator que me ajudou muito é viver numa vivenda, com um jardim grande e comum pinhal à frente. Isto possibilitou me sair à rua, todos os dias para ir passear com o meu cão, ou só para ir apanhar sol e respirar ar puro. Tenho consciência de que muitas pessoas não têm esta sorte, mas sinto que foi um ponto fulcral para manter um pensamento positivo.

Outro aspeto que me ajudou bastante durante esses longos meses foi falar por video-chamada todos os dias com os meus amigos e familiares. Era sem dúvida a melhor parte do meu dia e tornou-se uma prioridade para mim porque sabia que me ajudava a manter a normalidade em tempos tão anormais.

Com o avançar do tempo, penso que a minha preocupação passou a ser maioritariamente focada na economia do nosso país, sendo até hoje algo que me preocupa muito e talvez me dê até ansiedade de pensar. Tenho a sorte da minha mãe nunca ter parado de trabalhar durante todo este tempo mas o meu pai, que é trabalhador independente, não conseguiu trabalhar e mesmo agora, que tem essa oportunidade, o negócio está claramente afetado. Tenho a noção que mesmo assim, sou uma privilegiada, mas preocupam-me imenso todas as pessoas que perderam os postos de trabalho, todas as pessoas que estão a passar dificuldades. Para além disto, preocupa-me muito também o nosso futuro enquanto futuros trabalhadores, uma vez que iremos entrar num mercado de trabalho completamente destruído.

Assim sendo penso que a Covid-19 e a incerteza de toda esta situação me causam alguma ansiedade, pois penso que o pior ainda está por vir.

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