Sempre foi muito difícil para mim falar sobre os meus problemas e desabafar. Durante bastante tempo isso não foi motivo de preocupação, ia falando de pequenas coisas e as “maiores” nunca foram muito problemáticas. Até há poucos anos nunca tive nenhum motivo de queixa sobre a vida. Entretanto as coisas foram acumulando – stress da faculdade, dramas entre amigos, problemas de saúde na família mais próxima, início e fim de várias relações, a entrada na vida adulta e as pressões de pensar em arranjar emprego em breve. Por muito que pudesse pôr cara forte, as coisas acabavam por afetar-me, até chegar a um ponto em que a ansiedade e os pensamentos negativos começaram a ser constantes. O stress de começar a tese, duma nova rotina, da incerteza se estava mesmo na área certa, e tudo o que aconteceu antes, deixou-me a passar um mau bocado. Já tinha contactado o GAED, quando a minha mãe tinha estado no hospital e quando me senti mais assoberbada pela vida, isto tudo graças à insistência de pessoas próximas. Na altura ainda sentia um bocadinho o estigma e a vergonha de ter acompanhamento psicológico e se não fossem essas pessoas se calhar nunca tinha tomado essa decisão. A verdade é que esse primeiro passo de procurar ajuda (mesmo que ao início tenha custado e que não tenha visto efeitos muito rápidos) mostrou-se super importante na minha vida. Um ano depois das consultas iniciais, voltei a procurar o apoio psicológico e o mesmo tem sido muito valioso. Não só a ajudar-me a organizar pensamentos, mas também a perceber que não preciso de saber tudo o que quero para a minha vida, nem de ser tão exigente comigo mesma. Que os meus sentimentos são válidos e que o sentir-me em baixo ou ansiosa por vezes “sem razão” não era motivo de vergonha, mas talvez sinal de que precisava de mais ajuda. Que havia algo que não estava bem resolvido na minha cabeça, mas que eu o podia resolver, com a ajuda certa. Aos poucos, passinho a passinho. Ainda há dias em que parece que retrocedo ao início, cheia de medos, ansiedades e sentimentos negativos, principalmente tendo em conta o que 2020 nos tem trazido. Contudo, tenho arranjado maneiras de parar, olhar para trás e ver o caminho que já percorri e ficar orgulhosa de mim mesma; tentar aceitar que os dias maus vão continuar a existir, mas também aprender a dar valor aos dias bons e à soma de todos os pequenos passinhos. Agora sinto que pedi ajuda no momento certo. Não é vergonha nenhuma pedir ajuda quer os problemas pareçam “pequenos” ou quer pareçam sem solução. Em qualquer um dos casos há sempre maneira de ajudar. Todos nós merecemos fazer esse esforço por nós mesmos, mesmo que achemos o contrário. Tomar conta da saúde mental é tão importante quanto ir ao médico de família, não só de forma regular, mas quando nos sentimos pior. Os estigmas que sentia, ficaram no passado, e espero apenas poder contribuir para eliminar essas ideias preconcebidas noutras pessoas. Os problemas podem não desaparecer e a vida pode não ficar mais fácil – mas vamos aprendendo a ver novas perspectivas, descobrindo novos caminhos e arranjando maneiras de lidar com os obstáculos, sejam eles colocados por nós mesmos ou não.
Testemunho
Aluna de Mestrado em Bioquímica da FCT-UNL, maio 2020
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