Pode ser, para os alunos a sua primeira experiência de viver longe da família de origem
A frequência do ensino superior representa uma etapa extremamente fértil em termos de desafios, de conhecimento, de crescimento pessoal. Constitui a transição entre a escola secundária para um meio muito maior e mais diversificado de uma faculdade. Pode ser, para os alunos a sua primeira experiência de viver longe da família de origem, o que pode ser exigente em termos de adaptação.
Também os métodos de estudo requerem adaptação, os que tinham sucesso no secundário, quando aplicados rigidamente ao nível do ensino superior, conduzem a resultados muito abaixo dos desejados.
Pode acontecer que o sucesso académico inicial na faculdade não seja tão bom quanto o desejado por questões que não são directamente académicas. Nomeadamente dificuldade nas separações que esta nova etapa exige e estabelecimentos de novas relações.
Texto baseado em workshops realizados no GAPA/GAVP da FCT NOVA pelas psicólogas Dra. Julia Murta e Dra. Ana Dias durante os anos de 2006 e 2007.
Podia dizer –me, por favor, qual é o caminho para sair daqui? - perguntou Alice.
- Isso depende muito do lugar para onde você quer ir. - disse o Gato.
- Não me importa muito onde... - disse Alice.
- Nesse caso não importa por onde você vá. - disse o Gato.
- ...desde que eu chegue a algum lugar. - acrescentou Alice, como explicação.
- É claro que isso acontecerá. - disse o Gato - desde que você ande durante algum tempo.
Alice no País das Maravilhas – Lewis Carroll
O que pode ser falta motivação?
Quando o estudante faz um auto-diagnóstico da sua situação como de «falta de motivação» geralmente é por que sente alguma destas situações:
- Não sentir objetivos a médio/longo prazo (acabar o curso, trabalhar)
- Sentir objetivos mas a satisfação de os atingir é vista como muito longínqua e as satisfações a curto prazo são poucas ou inexistentes
- Sentir objetivos mas não acredita que aquilo que está a fazer no presente conduz a esses objectivos e até entra em conflito com eles
Como estimular a motivação?
As estratégias para lidar com dificuldades de motivação podem ir desde uma profunda auto-avaliação a um simples exercício de auto-regulação. Ou seja, os objetivos (e a tarefa de encontrar/criar relevância) podem ser pensados a diferentes níveis, nomeadamente:
- Objetivos de vida. Quais são? O meu curso contribui para os atingir? O meu curso não tem qualquer relação com eles? O meu curso conflitua com eles?
- Objetivos para o meu curso. O que é que quero tirar deste curso? O meu curso oferece-me aquilo que quero?
- Objetivos para este ano lectivo / semestre
- Objetivos para hoje
O que pode influenciar a motivação?
Assenta na investigação dos processos conscientes e inconscientes com vista ao crescimento mental e expansão da consciência. Tem por foco privilegiado a análise e reconstrução das relações vividas no passado, o desmantelamento de relações não-saudáveis e o desenvolvimento de relações saudáveis.
Neste contexto, a relação com o analista é uma relação profunda, recíproca e criativa. Neste modelo, o analisando está deitado num divã fora do contacto visual do analista.
- Valor - em que medida é que é importante para a pessoa alcançar determinado objetivo
- Instrumentalidade - a medida em que a pessoa encontra uma ligação entre a tarefa e o sucesso em alcançar o objetivo
- Expectativa - a medida em que a pessoa acredita que pode ser bem sucedida na tarefa e na sua capacidade para a realizar
Como manter a motivação no dia-a-dia?
As fontes de motivação podem ser extrínsecas ou intrínsecas.
Motivação Extrínseca – As fontes de motivação são externas à pessoa. Por exemplo:
- Auto-recompensarmos por uma tarde de estudo eficaz com fazendo algo que desejamos fazer (e não o fizermos a não ser que tenhamos atingido esse objectivo), as tardes de estudo eficaz tornam-se mais prováveis no futuro
- Se determinada forma de gestão do estudo para um exame for recompensada por uma boa nota, é mais provável que essa forma de gestão se repita na preparação do próximo exame
- A valorização por aqueles que nos rodeiam. Estudamos para sermos aceites e gostados por alguém (pais, professores, amigos, colegas...). Também pode acontecer que as pessoas falhem por resistirem a corresponder às expectativas de pessoas por quem se sentem pressionadas
As fontes de motivação podem ser extrínsecas ou intrínsecas.
Motivação Intrínseca – As fontes de motivação são internas à pessoa. Por exemplo:
- Cognitivas: estudamos para compreender uma coisa que é interessante
- Afectivas: estudamos para nos sentirmos bem
- Volitivas: estudamos para atingir ou desenvolver auto-eficácia e para concretizarmos os nossos sonhos
Como varia a motivação de pessoa para pessoa?
Pode-se ser considerar a existência de 5 factores de motivação:
- A pessoa é motivada para obter recompensas e evitar punições
- A pessoa é motivada pelo prazer em fazer a tarefa
- A pessoa é motivada pelo desejo de alcançar objectivos auto-determinados
- A pessoa é motivada pelo desejo de fazer corresponder o seu comportamento àquilo que espera de si próprio
- A pessoa é motivada pelo desejo de fazer corresponder o seu comportamento àquilo que os outros esperam dela
Assim, é importante saber o que é que, para ti e face à tarefa em questão,
funciona como fonte de motivação, e tirares partido desse auto-conhecimento criando «condições motivantes» na tua vida.
Não é só uma questão de escolhas…
Todos os comportamentos têm consequências. Os comportamentos que são repetidos, têm consequências também elas repetidas. Muitos comportamentos têm simultaneamente consequências positivas e negativas.
Por exemplo, faltar às aulas (uma estratégia para o insucesso) pode criar um acumular de trabalho e de ansiedade e frustração, durante a época de exames (consequências negativas), mas também liberta tempo que a pessoa pode dedicar a atividades mais agradáveis (consequências positivas).
Muitas vezes as dificuldades académicas são atribuídas a “não ser suficientemente inteligente ou não ter jeito para isto”. Esta atribuição paralisa a pessoa e torna-lhe mais difícil lidar com as dificuldades.
Os estudos feitos sobre as diferenças individuais no desempenho académico apontam para que o melhor/pior desempenho esteja menos relacionado com aqueles factores do que com aspectos como o «método», ou seja, com o facto de as pessoas organizarem melhor ou pior o seu pensamento.
Cada pessoa utiliza o seu próprio método (quer tenha consciência disso ou não) e existem métodos que funcionam melhor que outros.
Quais são as minhas dificuldades?
- Afecto: Que sentimentos e emoções tens (ansiedade, tristeza...) que sejam perturbadores ao nível do teu desempenho?
- Sensação: Que sensações físicas tens (dores de cabeça, dores musculares...) que interfiram com o teu desempenho?
- Imagética: Que imagens tens (fantasias, flashs, pesadelos...) que sejam desagradáveis e que interfiram com o teu desempenho?
- Cognição: Que pensamentos tens (crenças, valores, verdades) que interfiram com o teu desempenho?
- Interpessoal: Que relações com outras pessoas (família, amigos, etc) prejudicam o teu desempenho?
- Biologia: A tua saúde física e mental, e as medicações ou drogas que consumas podem afectar o teu desempenho (sonolência, euforia...). Isto acontece contigo?
Estudar mais ou melhor?
A tendência é pensarmos que o que tem falhado é uma questão de intensidade/força, o que nos leva a acreditar que se eu me empenhar mais nos procedimentos que costumo usar, obtemos melhores resultados, Isso pode ser verdade, mas nem sempre:
- É necessário perceber porque me tem sido difícil empenhar-me mais, só assim é possível desbloquear o processo
- É importante perceber se as estratégias que estou a utilizar são inadequadas, não é o facto de as empregar com mais empenho que as vai tornar adequadas
Se concluíres que os velhos hábitos e estratégias de estudo já não se encontram à altura das exigências da nova realidade, é tempo de estes serem avaliados e ajustados à situação presente. Propomos também que utilizes estratégias alternativas, para substituíres, aperfeiçoares ou complementares as que já tens.